joaolin

Desenhar é jogar. Jogando com os obstáculos, reagindo às marcas existentes, o desenho se constrói sobre e com os outros desenhos: alteridade. Encontrar o outro, mesmo que seja um borrão, um arranhão, mesmo que seja um corpo “desenhado” involuntariamente, pedir licença a uma textura e seguir em frente, saltar de um lado ao outro e fincar mais uma bandeira ao lado das outras, arranhar, macular sem culpa e apegos. O discurso dialógico não dá às costas as vozes grafadas no caminho. O jogo exige improvisação, resposta intuitiva construída no fluxo. É fluido se houver criação. É orgânico se houver interação. É forte se houver imersão. É vivo se está em movimento. O desejo de jogar foi o motor da pesquisa, o labor foi o combustível... e na sequência as revelações do vidro, a vez do vidro falar e a minha vez de escutar. O vidro tem sua transparência, mas tem suas obscuridades, é preciso respeitar quem se molda no calor de 900 graus.

Kintsugi: a beleza da imperfeição
A arte japonesa da restauração de vasos cerâmicos, Kintsugi, restaura revelando, valorizando a intervenção do restaurador. Metáfora para a vida.
A marcenaria do ouro utiliza uma mistura de laca e pó de ouro para consertar a peça, o dourado deixa visíveis as marcas da ruptura, mas também deixa mais forte e resistente o objeto restaurado.
O kintsugi emociona pela sua verdade, encanta pela sua forma e nos move pela sua força poética. Admirar as marcas que a história deixa em nós, aceitar as rupturas e incorporá-las em nós, explicitar o caminho trilhado e os seus rastros foram inspirações para a construção dos corações que vitrifiquei, que de certa forma “fossilizei”. Conservar as lembranças e as marcas que nos forjaram é caminho para reconstrução. O coração partido é símbolo da dor, mas pode ser também símbolo de sabedoria, do reconhecimento e do desejo de continuar em movimento. O fogo que vitrifica também purifica e prepara para o devir.